terça-feira, 21 de agosto de 2007

A Culpa é Minha, Tua e de Todos Eles




Vamos falar mal dos meios de comunicação. É fácil, nos exime de qualquer culpa ou responsabilidade (calma que eu já explico o porquê) além de ser o clichê mais cult atualmente. Parecemos aquelas mães que quando descobrem que o filho esta envolvido com drogas ou outras “baratezas” ( espancar pessoas é o barato de hoje), a primeira que fazem é atribuir aos amigos do santo filho toda a responsabilidade, pois “o meu filho jamais faria isso, ele nem sabe como se usa!”. Os meios de comunicação fabricam programas de teor cultural questionável, pregam apologia ao sexo e a violência, usam e abusam de nossa ingenuidade e o que fazemos para mudar isso? Quando mais, trocamos de canal. E não venham me dizer “eu não assisto televisão” porque esse papo de que alguém dedica todo o seu tempo livre para a leitura é papo de frescos, “culturetes”, pseudo-intelectuais e outros pertencentes à mesma fauna, ou flora. Atrevo-me a generalizar: Todos assistem televisão, uns mais, outros menos, mas que atire a primeira pedra quem não perde algum tempo na frente do aparelho.
Aquela antiga lei da oferta e da procura se aplica em comunicação social, pois se o nível de programas apresentados é ruim, é porque dá audiência, é porque alguém assiste e gosta. Ou seja, a culpa dessa presepada toda é de todos os brasileiros.
Theodor Adorno, filósofo e sociólogo alemão, passou boa parte dos seu 66 anos de vida fazendo duras críticas a indústria cultura e aos meios de comunicação de massa. Segundo ele, a mídia não existia apenas para proporcionar horas de entretenimento ou suprir a necessidade de informações, mas também “produzir e reproduzir um clima conformista e dócil na multidão passiva”.
Ainda, Adorno acreditava que existia uma relação de dependência por parte do público em relação aos meios de comunicação pois os espectadores não tinham escolha sobre o que assistir ou ouvir, sendo assim, obrigados a consumir o produto imposto. Esse é o mecanismo que move a indústria cultural, que a mais de 70 anos vem se estudando, criando teorias lindas assim como as teses magníficas (li apenas algumas) de Guy Debord com o seu best seller “A Sociedade do Espetáculo”, livro cultuado por aqueles jovens idealistas de Maio de 1968. O que se fez depois disto? Bom, se fizeram algo, foi muito mal feito, pois não mudou em nada a situação. Uma coisa é apontar as falhas de uma sociedade, outra coisa é criar alternativas para reparar essas falhas, e outra ainda mais importante é, de fato, resolver essas falhas.
Não queria citar nomes, mas a Rede Globo é ícone indiscutível dessa indústria, e pior, a única coisa que eu faço pra mudar essa situação é assistir TVE ou TV Cultura, não por obrigação, sim por informação. Também não sou hipócrita em dizer que jamais assisto a programação global, bem porque existem alguns programas descentes, claro que em horário totalmente incompatível com quem trabalha ou estuda pela parte da manhã. Eu concordo em parte com Adorno, mas acredito que exista uma interdependência entre público e meios de comunicação de massa, pois acredito que o público consiga viver sem a Rede Globo, porém a Rede Globo não consegue viver sem o público. Isso é um fator determinante numa relação como esta, mesmo que a probabilidade de um boicote do público seja remota. Hoje se faz protestos por tantas coisas, algumas causas chegam a ser ridículas, porque não reclamar por um pouco de cultura? Quem faz a qualidade dos programas exibidos pelos MCM é a própria audiência.
A sociedade do espetáculo é cruel sim, reconheço, porém é cômodo ao público assistir apenas o que lhes oferecem, não existe resistência, as pessoas agem de forma passiva, colaborando com o circo midiático. Este é o cerne na questão: Os MCM são impositivos por serem fortes corporativamente ou por se valerem de nossa omissão?
Outra característica da sociedade do espetáculo é a forma que os veículos midiáticos tratam determinado assunto, quase que de forma mitológica, transformando a notícia em um verdadeiro circo. Outro sintoma é a banalização da notícia, onde os critérios jornalísticos são mandados às favas. Dias atrás, comentávamos um amigo e eu sobre o papel do jornalista e ele citou um duas notícias de extrema importância: Uma reportagem sobre a casa na paria da apresentadora Eliane e sobre uma coruja que roubou o ninho de um joão-de-barro. Quem chamar isso de banal estará, no mínimo, praticando o seu lado eufemista.
Deborb define “sociedade do espetáculo” de uma forma mais abrangente como bem observa José Arbex Jr. no livro Showrnalismo: a notícia como espetáculo:

"O espetáculo – diz Debord – consiste na multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos de consumo, de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum: celebridades, atores, políticos, personalidades, gurus, mensagens publicitárias – tudo transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. O espetáculo é a aparência que confere integridade e sentido a uma sociedade esfacelada e dividida. É a forma mais elaborada de uma sociedade que desenvolveu ao extremo o ‘fetichismo da mercadoria’ (felicidade identifica-se a consumo). Os meios de comunicação de massa – diz Debord – são apenas ‘a manifestação superficial mais esmagadora da sociedade do espetáculo, que faz do indivíduo um ser infeliz, anônimo e solitário em meio à massa de consumidores’".


Alguns programas são a prova de que o problema não é apenas nos meios de comunicação, mas também na cultura do povo brasileiro que se delicia por bizarrices e conteúdos grotesco, alicerçando a indústria cultural e a sociedade do espetáculo. Usemos como exemplo o famoso "Big Brother Brasil". Programa sensacionalista que lucra milhões por suas exibições fúteis e de total ausência cultural. Até podemos admitir que acompanhar a convivência diária de um grupo de pessoas, confinadas em uma casa, seja interessante para afinar nossos conhecimentos sobre comportamento humano, agora, gastar dinheiro, tempo e atenção pra enriquecer uma emissora de TV é, no mínimo, ignorante.
O interessante é que, analiticamente falando, quanto mais polêmica for exibida em tal programa, mais se eleva a sua audiência. Então, a idéia de entender o comportamento humano se desfaz, e ficamos com a pobre intenção de cuidar da vida alheia. Em noites ociosas, nos pusemos a conversar com a família sobre a distorção da informação que nos é passada, da falta de ética que se instala nas redações dos telejornais, e talvez façamos isso no intervalo do nosso BBB de cada dia. Irônico, não? Justamente, é esse o grande problema da sociedade, falta de percepção do seu próprio comportamento em relação àquilo que o mesmo crítica.
Outro programa que pode-se considerar o supra-sumo da cultura de massa, ou falta de cultura da massa era o extinto Programa do Ratinho comandado pelo apresentador Carlos Roberto Massa (propicio não?) ou Ratinho, que em meados da década de 90 comandou um verdadeiro show de bizarrices e baixarias, e incrivelmente conseguia números absurdamente altos de audiência. O público-alvo de seu programa era a população de nível cultural e financeiro mais baixo, não que uma coisa leve a outra. Exames de DNA, flagras de pessoas entrando em motéis e quadros de humor grotesco e de tremendo mau gosto configurava a estrutura de seu programa. Na época de ouro, Ratinho conseguiu desbancar a audiência da globo no horário nobre da emissora, coisa jamais vista e até hoje, nunca repetida. O “povão” sem o discernimento mínimo necessário para distinguir o que é cultura de valor e cultura ruim (sim, eu me atrevo a chamar assim) assistia aquilo e achava o máximo, sem nunca questionar o quão nutritivo era o conteúdo apresentado e nem sequer mostrar reação quanto a temática do programa. Quando eu falo em “nunca” ou “ninguém”, estou generalizando (pela segunda vez), pois busco quantias e dados relevantes, não que eu queira desvalorizar as exceções, bem pelo contrário, mas é inevitável que se pense em generalizar devido as proporções.
Temos a TVE, a TV Cultura no Brasil, ou seja, opções de bons programas há, e não apenas nestes dois canais, poderia citar também a TV Senado que oferece programas culturais todas as noites, temos a TV Ulbra na grande Porto Alegre que oferece um rico cardápios de filmes alternativos e legendados para quem quiser assistir. Por que não assistem afinal? Insistem em ver programas de baixo teor educacional. Acredito que os meios de comunicação possuem a sua parcela de culpa sim, mas querer afirmar que a culpa é inteiramente deles é injustiça. Vamos ser francos, o povo brasileiro é medíocre em não dar valor aos talentos que aqui existem, a desincentivar o cinema nacional, e principalmente permanecer quieto perante as freqüentes subestimações de seu intelecto. Penso que estão muito bem com o que lhes oferecem, devendo bastar as novelas de enredo varias vezes repetidos. A mediocridade de um povo se mede todos os dias, e não apenas de quatro em quatro anos.
Deveríamos nos interessar mais em tentar trazer à TV aberta programas que fornecessem mais cultura aos nossos jovens, crianças ou até mesmo aos adultos. Há muito jornalista por aí procurando um lugar para expor seu trabalho (bom trabalho, diga-se de passagem), documentários excelentes, reportagens mostrando as diferentes faces do Brasil ou até mesmo do mundo, trabalhos ótimos que se omitem em meio a frescuragens como as telenovelas, os reallity shows e outras bobagens que os produtores exibem achando que irão trazer enorme divertimento a população. Será que o público já ouviu falar em humor inteligente? E se não temos bons programas sendo exibidos, é porque a nossa sociedade insiste em fechar-se para o conhecimento. Sem audiência, produtor nenhum vai se interessar por trazer algo diferente a TV aberta, e continuaremos com a programação pobre e limitada que temos disponível.
Para concluir, ressalto a devida importância do público na hora de exercer o seu senso crítico quando a programas ruins e atitudes duvidas que os meios de comunicação veiculam para fortalecer a nação de alienados. Alternativas de vida inteligente na televisão aberta existem, basta dar “um basta” no sensacionalismo promovido pelo corporativismo e dar crédito a pessoas que lutam pela identidade cultural desse país.


REFERENCIA:

ARBEX JR, José. Showrnalismo: A Notícia Como Espetáculo. São Paulo: Casa Amarela, 2001.

terça-feira, 31 de julho de 2007

NO DRAMA;
YES NOTÍCIA
Duas situações distintas, porém com um ato em comum: Na tentativa de assaltar uma residência, o fora-da-lei mantém uma família refém por horas. Um dos fatos tem superexposição na mídia com direito a plantão, cobertura exclusiva e boletins a cada tantos minutos. No outro, uma reportagem de 30 segundos em um telejornal de médio prestígio. Minha pergunta é: Por que a diferença no momento de noticiar o fato? Simples. Uma das residências invadidas era do apresentador Silvio Santos, enquanto a outra era de uma família normal, anônima e de baixa renda. A população ficou com medo, “meu Deus, seqüestraram o Silvio Santos. Esse país não tem mais jeito, a violência atingiu um nível estratosférico.” Oras, precisa o Silvio Santos ser seqüestrado para os cidadãos brasileiros se darem conta que sociedade é diariamente agredida? Tirando o fato de que o nobre cidadão é dono de um canal de televisão e um dos apresentadores mais populares do Brasil, sua estrutura molecular é formada basicamente por carbono, 70% do seu corpo é constituído por água, inspira oxigênio e aspira monóxido de carbono, urina, defeca e como diz no dicionário, expele ventosidades, com estrépito pelo ânus, assim como todos os outros animais da espécie Homo Sapiens. O valor atribuído a Silvio Santos pelos meios de comunicação de massa faz de mim (e das várias famílias mantidas em cárcere por algum assaltante) um insignificante perante a sociedade, que atribui um enorme valor aos MCM. A vida dele é mais importante que a minha, por mais que a minha mãe discorde. A valoração de determinada pessoa aumenta de acordo com a quantidade de símbolos ela representa para outra pessoa, seja de forma passiva, honesta, heróica, hedionda, violenta ou libidinosa. Eu não conheci pessoalmente Roberto Marinho e não posso dizer se ele era um bom pai de família, um jornalista sério, um homem honrado, mas graças ao valor que atribuo a Rede Globo, acabo acreditando nisso (apenas um exemplo). A importância de Silvio Santos para os brasileiros deve-se justamente a esses valores, de um homem honesto, trabalhador, que quando jovem era camelô e hoje possui uma fortuna absurda. É evidente o porquê da tremenda cobertura jornalística e de toda a dramatização do seqüestro. Programas de quinta categoria já começaram a explorar o lado sentimental do acontecimento, exibindo diversas reportagens sobre a vida do apresentador, sua importância para a televisão brasileira, seu legado. Se o infeliz do bandido tivesse matado Silvio Santos, eu diria que Sônia Abrão o matou primeiro. Mais vergonhoso que chorar vendo Rei Leão é chorar assistindo as “novelas” que essa apresentadora reproduz no seu programa, com direito a trilhas emocionantes, comentários de quem conviveu com o ilustre seqüestrado, a mãe do bandido afirmando aos prantos a vergonha que tinha do filho, enfim, um banquete sensacionalista para famintos por vidas alheias. Aposto que depois disso, até os moradores das favelas ficaram com medo de sair na rua, de deixar uma janela aberta ou tomar uma cerveja no bar da esquina. Pode ter alguém pronto para entrar na sua casa, fazer sua família refém por horas e até lhe roubar o que você mais preza em sua vida: O seu carro. Infelizmente é assim que funcionam as coisas por aqui. As pessoas só se dão conta do que está acontecendo ao seu redor quando a indústria do medo lhes oferece seu produto para o deleite de seus consumidores. Uma família mantida sob coação de algum marginal armado é comum no Brasil e ninguém se dá conta que banalizamos a violência, até que os meios de comunicação de massa dramatizam algum episódio envolvendo alguém de grande valor simbólico e o exploram ao máximo, jornalisticamente, com superexposição do fato, priorizando-o em relação a demais eventos de mesma natureza. Durante um dia, os espectadores refletirão a situação em que nos encontramos (um dia possui 24 horas sendo que, em média se dorme 8 horas, 3 horas de novelas, 8 destinam-se ao trabalho, restando 5 horas de “profunda” reflexão).

terça-feira, 8 de maio de 2007

Segunda feira tem postagem!